quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A degradação ambiental ameaça o futuro de Ruanda

A degradação ambiental ameaça o futuro de Ruanda


Por Laurence Caramel
Lago na cratera do vulcão Bisoke, no parque de Virunga, entre a fronteira de Ruanda e do Congo (ex-Zaire), que está no livro "África", de Sebastião Salgado
Em Ruanda, as paisagens verdejantes do País das Mil Colinas oferecem uma vitrine enganosa. Uma falsa imagem de abundância e de diversidade. Na quarta-feira (2), em Nova York, na ocasião do lançamento do Ano Internacional da Floresta pelas Nações Unidas, o ministro ruandês da Terra e do Meio Ambiente, Stanislas Kamanzi, anunciou uma “iniciativa global de restauração das paisagens florestais”.
Não se trata de um gesto circunstancial destinado a satisfazer as organizações de conservação da natureza, que lutam localmente para salvar os gorilas das montanhas nas florestas ruandesas, um dos seus últimos refúgios.
“Sem um meio ambiente sustentável, não podemos nos desenvolver, é uma realidade”, declarou Kamanzi. Essa realidade já atingiu Ruanda a ponto de obrigar esse pequeno país – 26 mil quilômetros quadrados – encravado no coração da África dos Grandes Lagos a estabelecer como prioridade nacional o fim da degradação dos solos, o salvamento dos cursos de água e das formações florestais até 2035. É uma questão de sobrevivência para uma população de 10 milhões de habitantes que deverá dobrar no decorrer dos próximos trinta anos.
“É a primeira vez que um país em desenvolvimento assume um compromisso como esse em escala nacional”, observa Hassan Partow, responsável pela avaliação ambiental de Ruanda no Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente). “Mas a situação é urgente. Ruanda não poderá fazer a pobreza recuar se não restabelecer seu meio ambiente”, acrescenta.
Deslizamentos de terra, inundações, sedimentação de cursos de água, queda dos rendimentos agrícolas – sendo que quase nove em cada dez ruandeses tiram sua renda da agricultura - , o rápido desmatamento do país e a superexploração dos solos têm consequências preocupantes. A erosão das encostas provoca, a cada ano, uma “evaporação” dos solos estimada em 1,4 milhão de toneladas. Aquilo que os especialistas da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) traduzem por “uma perda de capacidade de alimentar 40 mil pessoas”.
Há apenas alguns meses, Ruanda publicou, com o apoio do Pnuma, seu primeiro relatório sobre “o estado do meio ambiente”. Ele servirá de referência para as futuras ações de recuperação. O diagnóstico que ele estabelece permite apreender a dimensão da tarefa: 64% da floresta desapareceu desde 1960, cobrindo hoje somente 240 mil hectares, sendo que somente um terço é de floresta natural; 30% dos pântanos foram drenados para serem transformados em terras agrícolas, desequilibrando o funcionamento dos cursos de água. E mesmo na foz - a produção de eletricidade, como foi o caso em 2004, em Kigali, onde a central hidrelétrica que abastece a capital se encontrou desprovida das preciosas águas de seu lago-reservatório.
Essa corrida por terras no país mais densamente povoado da África foi iniciada há muito tempo, mas em 1994, após o genocídio sofrido pelos Tutsi, a volta de quase 1 milhão de refugiados marcou uma nova etapa. Para realojá-los, o governo destombou grande parte das áreas protegidas. O imenso parque nacional de Akagera, na fronteira tanzaniana, viu sua superfície diminuir pela metade. Do parque nacional de Gishwati, que originalmente cobria 28 mil hectares de florestas úmidas, não restam mais do que 700 hectares... O número de espécies selvagens que povoavam esses refúgios despencou.
Como reverter a situação? “Nós iremos definir ações e zonas prioritárias”, explica Stanislas Kamanzi, destacando alguns projetos já iniciados que o governo pretende ampliar. Sendo assim, a transferência das populações que vivem nos espaços mais frágeis de Gishwati já foi iniciada. Árvores começaram a ser replantadas. Para combater a ocupação esparsa que é a regra no campo ruandês, vilarejos estão sendo construídos dentro de um programa chamado “Imidugudu”, financiado em parte pela ONU. Foram feitos esforços para intensificar a agricultura.
Ao longo dos alertas que se multiplicaram ao longo dos últimos anos, o país foi aos poucos se conscientizando de que, se não fizer nada, se encaminhará direto para uma catástrofe. “Agora se deve passar para uma outra escala. Não basta plantar árvores”, afirma Stewart Maginnis, da União Mundial para a Conservação da Natureza (UICN), cuja rede de cientistas será mobilizada para ajudar o governo a elaborar sua estratégia. A restauração é de fato uma ciência delicada e relativamente nova, que um país como Ruanda não domina. “Nós precisamos de uma expertise estrangeira”, admite Stanislas Kamanzi, ao mesmo tempo em que também reconhece que essa vasta obra não poderá ser concluída sem convencer a população de sua necessidade.

Tradução: Lana Lim

Um comentário:

  1. Seria ótimo se mais países despertassem para o problema que é global. Tivemos vários exemplos aqui no Brasil do que é a devastação da natureza. A mais atual aconteceu na região serrana do Rio de Janeiro. Creio que a ganancia do ser humano não nos deixará ir muito longe. Triste isso, mas uma realidade. Ótima postagem! Beijos!

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