sábado, 12 de junho de 2010

Crônicas e Memórias de Scarlat.

By Scarlat

Quando penso nesses últimos 7 anos percebo que minha marca para a posteridade será muito rica de carinhos, lambidas, destemperos, viagens, aventuras e claro desventuras também.
Acima de tudo lembranças de uma vida cheia de camaradagem e percalços, e deixo a todos meu carinho, minhas lembranças e alguns objetos esquecidos em alguns cantos da casa, porém todos resumem meu legado aos próximos seres da minha espécie que tiverem sorte de ter um humano, para chamar de seu.
Iniciarei nossa conversa em 15 de junho de 2003, quando conheci minha humana, e como qualquer humano antropocêntrico por natureza, acreditava piamente, por seu nome estar em letras negritas no alto do meu pedigree, ser minha dona, mestre ou algo parecido. Ledo engano. Digamos que estávamos mais para Pink e Cérebro buscando dominar o mundo, mundo das aventuras no caso. Claro que, se tratando de minha pessoa, o Cérebro, e ela, o pobre Pink.
Devidamente esclarecido esses pontos, passemos aos fatos que envolveram minha chegada a este momento em que vos escrevo.
Minha humana não se intimidando com a voz do povo, escolheu-me pelos verdadeiros atributos de minha nobre raça, que seriam, belíssima e farta pelagem, sempre negra e caramelo, patas fortes, peito largo, cabeça elegante e olhos inteligentes e que inspiram respeito, porte garboso, temperamento equilibrado, franco, corajoso e acima de tudo leal. Não pense que isso se deve a uma elevada autoconfiança.
Estou sendo deveras modesta, não mencionando, meu latido imponente, minhas feições que mudam do mais temido arreganhar de dentes ao mais dócil sorriso. Algo que faço com incrível naturalidade e às vezes somente para ver humanos apavorados em incrível desatino, pulando sarjeta a fora! Confesso se tratar de um dos meus prazeres prediletos.
Não tendo sido, minha má e errônea fama, um empecilho, me tornei rapidamente um membro da família, ocupando obviamente uma posição privilegiada, condizente com meu status Rottweiller.
Deixei claro o quanto os amava e estimava desde o princípio. Claro que se tratando de uma fêmea tenho meus dias de bons e não tão bons momentos, resultado da TPP (tensão por poder) e meu humor flutua tanto quanto as nuvens em dia de verão. Mas sempre que pude, rosnei “Eu te Amo” para minha humana entre outras pessoas que conheci, afinal isso são as coisas boas da vida, inclusive a canina.
Desde pequena, sempre fui muita curiosa e na época o esporte predileto era fuçar nas sacolas de compras destinadas a mim (meu faro sempre foi muito bom, não teria por que procurar nas sacolas com produtos de limpeza, higiene ou similares) e qual não era o prazer de descobrir as novidades como brinquedos, biscoitos, ossinhos entre tantos outros. Alguns não seriam dignos de notas como shampos e condicionadores. Sou uma dama em todos os aspectos, mas banhos não me apeteciam devo confessar, mas o que não fazemos por uma boa lata de carne, então era um mal necessário para atingir o objetivo de dominar todas as delícias do mundo.
Já que toquei neste assunto: mundo, vale destacar que as peripécias para conquistá-lo se deram já na tenra infância. Afinal, eu tinha somente 45 dias quando vim para a minha família e menos de um mês depois lá estava minha pessoa canina desvendando veredas, mata, rios, pastagens, bosques e entre outros.
Já nesta primeira viagem existem muitos fatos relevantes no aspecto que além da beleza felina devo ter também 7 vidas. Logo nos primeiros dias comecei a testar o espaço e minhas habilidades e tal qual constatei:
• A viga de 12 x 6, pesa muitíssimo. Como agora sei? Oras, fui esbarrar e caiu no meu pé, gani muito de dor.
• “Cachorro sem rabo não atravessa ponte”, dizem. Constatei que principalmente para os principiantes como eu, na época, que se atreve a correr enquanto atravessava não dá outra, fui retirada do charco a 1,5 m abaixo da ponte com barro até nas vísceras. Contam que só meus olhinhos estavam branco, exagero digo, afinal não estava tão assustada assim, imagina, eu?
• Se for escolher prefira um choque de 220 volts, mas se aceita um conselho, não tente mastigar os fios que encontrar, apesar das insistentes intervenções de minha humana, fui tentar a sorte, quase parti mais cedo, outro sufoco daqueles.
• E para encerrar as aventuras dessa primeira viagem, fui por em prática a teoria que a menor distância entre dois pontos é uma linha reta. Não me atentei ao fato que se tratava de uma curva de rio e já pode imaginar o que houve, não é? Fiquei muito molhada.
A esta viagem seguiram muitas outras para o mesmo paraíso e para outros tantos. Em cada um devo confessar que existiam particularidades.
Neste primeiro eu não compreendia como aqueles cachorros podiam ser tão grandes, minha humana os chamava por cavalos, não tinham dentes imponentes como os meus, muito menos caninos afiados, mas sabiam morder. Distração neste caso significava risco para o meu cotoco. Mas jamais me pegaram de fato, afinal sou menor, e nos menores frascos ... as melhores essências.
Essências? Me dirá, não seria perfume? Quanta insolência imaginar que poderá me corrigir! Mas como sou muito magnânima vou explicar.
Há quem diga que se existe outra vida, fui um búfalo, por quê sou preta, outros alegam que devo ter sido uma orca, já que muitos, tais como a elas, chamam a nós, rottweillers, assassinos. E como tais animais nada me dá mais prazer que uma brincadeira na água, pode ser rio, lagoas, açudes, ou mesmo poças de água.
Sou exímina nadadora, e por várias vezes vi minha humana enlouquecer após me resgatar de encrencas, já pensando em como me ressuscitar só para poder esganar umas cinco vezes seguidas, da última oportunidade foi um resgate da correnteza de rio turbulento em período de enchente. Ou seja não preciso de perfume, sou a natureza em frescor, a essência da liberdade! Explicado?
Em terra firme, sempre fui fã de alta velocidade. Na estrada nada menos que 100 km/h, com direito a eu mesma acelerar “meu” carro, pressionando a perna direita da minha humana, que me prestava serviço também de motorista.
Mas bem se o problema era um motorista divagando na estrada, deixa comigo, umas rosnada, seguida de uma amostra de meus belos dentes, preferencialmente de perfil (meu incontestavelmente melhor ângulo), e por mágica ninguém permanecia no lugar, seja ao lado, na frente, ou mesmo aqueles ingratos flanelinhas.
Também podia fazer uma demonstração dessa ordem, a convite de minha humana, era dizer a senha e eu prontamente localizava o desafeto. Sou ótima no quesito espanta gente chata!!
Já contei? Que se um E.T. nos observar, vai anotar em seus diários que os CÃES são a raça soberana por aqui! Afinal até nossos dejetos são recolhidos e observados por nossos “mucamos” humanos, não é?
Sim, excepcionais lembranças de 7 longas primaveras. Recheados de brincadeiras na orla do mar, brincando nas ondas, em parques evoluídos, os quais aceitam que os cães levem seus humanos para passear, em cidades e lugares novos, conhecendo pessoas, fossem bípedes como minha serva ou quadrúpedes como eu. Mas tenho que advertir sou tímida, não gosto de muita conversa. nem mesmo de muitos afagos, mas não se preocupe, não como carne de segunda. Veja bem, um olá já basta. Agora, se eu gostar do seu cheiro, se prepare, vou querer te dar um "aubraço" e muitas lambidas. Abraços são bons pra cachorro.
Advirto ao meu sucessor e aos outros cães também. Nada, mas nada mesmo, pode ser melhor que um passeio altas horas com lua cheia e céu estrelado numa noite agradável. Tudo bem, sei que dirão: “É perigoso, não se pode fazer isso.” Mas eu sempre digo que na minha companhia, a humana minha, esta em absoluta segurança. Sempre a protejo com lealdade e fidelidade.
Nós anjos de quatro patas somos assim. Sempre me mantenho alerta, enquanto a acompanho a seus trabalhos no computador, em casa, em áreas abertas, dormindo aos pés de sua cama ou abaixo da sua janela, pedalando no parque ou na rua, ou mesmo fazendo a segurança em meio ao trânsito caótico dessa desvairada paulicéia. Isso sim é uma vida do cão.
Assim descrevo minha passagem, atualmente cuido de outros anjos de quatro patas e ladro feliz para passar o tempo. O que me faz lembrar. Vou ter que deixá-los com seus pensamentos neste momento, um grande osso me aguarda, este verdadeiramente celestial.




Saudações Caninas!
Lambidas a todos.
Scarlat Morgan
(05/05/2003 -  07/06/2010)

PS: Cuide bem do seu amor.

3 comentários:

  1. Sem palavras... Bela homenagem. Parabéns!!!

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  2. Nossa!!!!
    É sem palavras mesmo :o
    Homenagem linda demais!!!
    Até me emocionei!!
    Mascotes são inesquecíveis em nossas vidas...
    Mesmo eu sem ter conhecido a Scarlat Morgan, sei que ela foi uma mascote maravilhosa!
    Meus sentimentos professora!
    Scarlat Morgan sempre será lembrada!!!
    Scarlat Morgan, tu és demais!!!

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  3. Cris, quimica: fiquei muito emocionada com a homenagem, espero que sua nova companheira te traga muita alegria.Ela é muito fofa e meiga.Felicidades, beijos de sua amiga Cris e nunca vou esquecer da Scarlat Morgan, pois ela mora no meu coração.Parábens :D

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